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Era madrugada de um sábado qualquer, estava na cama fazendo algo que não lembro, quase dormindo ou brincando de ficar acordada. Meu celular toca, atendo e escuto sua voz trôpega, embalada por algumas doses de vodka: “por que ele não me ligou Ju?

Não consigo imaginar quantas vezes eu mesma me fiz essa pergunta, e como nunca tive uma única resposta que me convencesse. Então, como responder para minha amiga que naquele momento de bebedeira estava com todos os sentimentos à flor da pele, meio chorosa, saudosa, apaixonada, abandonada, com mil fantasias vibrando na pele que não foram realizadas, porque ele não ligou…

Eu poderia ser completamente racional, e assim magoa-la, falando algo que pode ser óbvio para muitos, ele não ligou, porque não quis ligar. Poderia também ser romântica, como muitos nessas horas, e dizer que ele não ligou, porque ele ficou com medo, o amor assusta, e ele foi só mais um dos tantos covardes que ela cruzou ou irá cruzar.

O fato é, que não tenho como responder, jamais teria como saber a resposta e fui sincera, falei com a voz mais cheia de carinho possível, para tentar amenizar a dor dela, e disse: eu não sei amiga, eu não sei porque ele não te ligou. Do outro lado o choro.

Era tudo o que eu poderia fazer por ela naquele momento, escutar ela chorar. E enquanto ela chorava, eu me perguntava, se ele teria a resposta. Penso que não, penso que muitas vezes nem a própria pessoa consegue responder o porquê.

E o triste da madrugada bêbada é justamente perceber que a vida não é filme e as coisas nem sempre são tão bem resolvidas, nem sempre temos ponto final ou de exclamação no final da cena. Na maioria das vezes temos que dormir com a dor no peito, o enjoo nas vísceras, os diálogos infindáveis na cabeça e a dúvida.

Me pergunto quantes vezes na vida eu fui a pessoa que não ligou, não lembro. Isso me faz concluir que todas às vezes que não liguei foi porque realmente a pessoa não importava para mim. Todas as outras eu liguei, fui atrás, e vivi o que a gente podia viver.

Mas essa sou eu, sou daquelas que não foge, que faz acontecer quando quer algo, que vive, mesmo se o medo chegar e os alarmes soarem, eu vou viver o que estiver com vontade, o que faz meu coração pulsar e meu corpo estremecer. A única coisa que pode me impedir de viver é justamente se lá do outro lado da linha a pessoa resolver não atender.

Postado ao som de Galope Rasante – Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

Uma resposta »

  1. Mais um belo texto…

    Se ele não ligou, ligue você uma boa música, aumente o volume do som e dance pela sala acompanhada por uma deliciosa taça de vinho.

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